BARF à la Carte — os menus biológicos adaptados a cada animal
Aqui, o organismo de cada animal é que manda. Nesta empresa, a alimentação natural tem ajudado a uma maior longevidade.
Tudo começou com a chegada de um furão à vidas de Sara Soares dos Reis e da sua irmã. As opções de alimentação comercial para estes pequenos carnívoros estritos, com uma esperança de vida de sete a dez anos, não existiam e a preparação da sua alimentação de uma forma caseira era obrigatória se quisessem respeitar a biologia da pequena Moochi e garantir a sua saúde.
“Nessa altura não havia rações específicas. Usava-se a de gato, que tinha cereais e isso provocava uma doença potencialmente fatal. Por isso, começámos a ver receitas online sobre como desenvolver alimentação natural. E a Moochi viveu 13 anos”, conta Sara Soares dos Reis à PiT.
Anos mais tarde, esta lógica alimentar perdura e é transversal a todos os animais de estimação da família, desde as tartarugas, aos furões e aos cães. Pelo caminho, conforme iam aplicando este tipo de alimentação BARF — Alimentação Crua Biologicamente Apropriada — aos seus animais, também alguns amigos e familiares foram pedindo e as solicitações foram crescendo.
Dali à criação da BARF à la Carte, em 2016, foi um passo. “A ideia dos menus aconteceu, literalmente, no meu sofá”, explica Sara, que é a fundadora da empresa.
Sara frequentava um grupo de alimentação natural. Nessa altura, não havia empresas 100% dedicadas a este tema e os valores pedidos pela única marca existente eram altos. “Para um mês, a alimentação rondava os 250 euros num cão de 30 quilos”. Além disso, era uma alimentação simplificada, pois apenas usava duas proteínas. “O ideal é que se rode o máximo de proteínas para no fim de uma semana termos atingido uma alimentação ótima e diversificada, oferecendo ao animal tudo o que ele necessita para ser saudável”.
“Há sete anos era essa a falha: havia apenas uma empresa, limitada no que oferecia, e era cara. Então várias pessoas começaram a dizer, online, que gostariam de fazer essa alimentação, mas que não se sentiam preparadas para a confecionar. Já existia internet, claro, mas este tema que foi durante muito tempo de nicho, não tinha toda a informação disponível como temos agora. Vimos que o ideal era que houvesse uma empresa que se dedicasse exclusivamente a isto, com médicos veterinários de apoio. E foi assim que surgimos”, aponta.
A congelação profilática
Sara conta que a BARF à la Carte tem um processo que torna esta alimentação segura: a congelação profilática. “Um congelador doméstico não congela muito rapidamente. Nós temos abatedores de temperatura ou células de arrefecimento rápido que ultra congelam os alimentos e em poucos dias a comida fica apta a ser consumida sem qualquer perigo”.
“Nós, humanos, quando mastigamos, iniciamos logo a digestão ao misturarmos a comida com a saliva (processo digestivo que contempla a amilase). Ou seja, a digestão começa na boca. Nos cães isso não acontece. Rasgam e esmagam a comida, mas não têm uma boca como a nossa, com molares e uma morfologia que permite a criação do bolo alimentar e ficar tudo moído”, sublinha Sara. Isso quer dizer que quando comem ração, esta não devia ter amido (através do milho, cevada, trigo, etc.), explica, pois eles não precisam desses ingredientes, que alteram o PH do seu estômago e ao longo do tempo promovem doenças.
Saliente-se que o PH de um carnívoro anda à volta um e o de um omnívoro à volta de cinco. “O cão é carnívoro, mas não é um carnívoro estrito. O tempo que passou desde o processo de domesticação do cão ainda não foi suficiente para existir uma evolução biológica para que se torne omnívoro. Em génese, continua carnívoro, daí não ter a capacidade de fazer a amilase e este elemento essencial à ração, o amido, lhes ser prejudicial. Entre outros ingredientes processados, claro”, diz Sara.
Porquê uma alimentação processada?
“Os animais são todos seres sencientes e cada vez mais tidos como membros da família. Então porque continuamos a relegá-los a uma alimentação processada?”, questiona a fundadora da empresa, com formações em Nutrição Animal e HACCP (metodologia preventiva para a segurança alimentar, em que, neste caso, a alimentação tem de respeitar regras — como ser embalada a vácuo, congelada em abatedores de temperatura e com ingredientes aptos a consumo humano).
Sara recorda que a ração aparece numa primeira fase com a carne enlatada, na Primeira Guerra Mundial, para fazer chegar a comida às tropas com validade e em condições. O produto deixou depois de ter utilidade, mas passou a haver essa alimentação de enlatados para animais. Depois passou-se a desidratar (que na ração se chama processo de extrusão) quando, na Segunda Guerra Mundial, a lata e qualquer metal se tornou tão precioso às tropas que deixou de estar disponível para este tipo de embalamentos, explica.
“São consequências económico-sociais que se estendem ao pet food. Foram criados produtos e tecnologias que, ao tornarem-se obsoletos por essa mesma conjuntura se esgotar, tiveram de ser canalizados e transformados em outros produtos rentáveis. O conceito de ração veio da necessidade de escoar o produto e aproveitar tecnologias criadas”.
A ração era cómoda, fácil, estava seca. “Mas os nossos avós já alimentavam os cães com arroz, legumes e miúdos, não era com ração. Comiam de uma forma mais natural e equiparada à nossa. O que correu mal com a ração foi este processo de amilase e todos os suplementos químicos que as rações têm com o pretexto de serem completas. O cão não deixa de ter resistência à doença que um organismo mais ácido vai ter. E a alimentação BARF (muito semelhante a uma dieta cetogénica) permite isso, sendo que o cão fica mais saciado, hidratado e estável”.
Duque ajudou à personalização dos menus
E no que consiste, concretamente, a BARF à la Carte? O princípio é fazer uma alimentação biologicamente adequada a cada animal. Por isso é que dá para todos, sejam eles cães, gatos, coelhos, tartarugas ou furões.
A ideia de personalizar os menus surgiu quando um dos três cães da família, o Duque, mostrou uma certa resistência ao fígado, que é um ingrediente comum e chave na alimentação BARF. “Cada indivíduo é um indivíduo e ele ficava com perturbações gastrointestinais se comesse mais de 2% de fígado”.
Por isso mesmo, a empresa não só cria menus como também os adequa a cada animal. Há 14 menus gerais, mas nos cães que começam esta alimentação mais tarde na vida, nos cães menos saudáveis ou com outras características, é preciso fazer um acompanhamento — e até na transição para esta alimentação isso é necessário.
A BARF à la Carte, que faz um consumo sazonal dos elementos e usa produtos biológicos, está em processo de mudança de instalações para ter ainda mais controlo nos ingredientes que usa. “Vamos mudar para uma quinta em Mafra para podermos ter a nossa própria produção de legumes e ervas aromáticas”, diz Sara, que é adepta da alimentação BARF e RAW há mais de 15 anos.
E o que distingue estes dois conceitos? Basicamente, a BARF é biologicamente apropriada e tenta replicar o que aconteceria na natureza. “Quando um lobo ataca uma presa, a primeira parte que come são os órgãos — os herbívoros comem bagos, fruta, ervas, etc. Os lobos acabam assim por comer matéria vegetal, neste caso já fermentada pelo suco gástrico. Nós fazemos, assim, uma leve cozedura dos legumes para que a fibra esteja algo quebrada, replicando este processo gástrico. Já a RAW não leva legumes e por isso é tudo carne crua”, explica Sara.
E como tem sido a receção das pessoas? “Muito boa. Temos conquistado mais adeptos desta alimentação”, diz a fundadora.
“No início, muitas vezes, o cão já chegava muito doente. Tivemos um Beagle a quem davam no máximo mais três meses de vida e com a nossa alimentação — dieta cetogénica desenhada especificamente para os seus problemas, que é uma dieta desenvolvida pela médica veterinária Jacquelyne Motta — acabou por viver mais três anos ”, conta Sara.
“A primeira geração dos nossos clientes de quatro patas era a brigada dos cães idosos e doentes. Eram os donos desesperados para salvarem os seus animais. Já tinham tentado tudo. Nesta segunda geração, esses donos dos primeiros cães estão agora a fazer escolhas conscientes para os seus novos amigos e procuram-nos logo, porque reconhecem a diferença que esta alimentação fez nos seus animais doentes. Querem uma escolha consciente logo desde o início.”.
E essa escolha deve-se ao facto de as evidências falarem por si. A isso e ao passa a palavra. “Os nossos clientes são o nosso cartão de visita. Quando nos chega um animal com pouca esperança de vida, muitas vezes conseguimos que vivam um pouco mais através da reprogramação alimentar. E o resultado obtido é a melhor prova de que funciona em muitos casos”.
Percorra a galeria para conhecer melhor a BARF à la Carte e o seu conceito.